Por que a saúde de animais selvagens não é uma prioridade no Brasil?

O Brasil é o país com a maior biodiversidade do mundo. No entanto, essa riqueza é pouco explorada e, por isso, não recebe a mesma atenção que outros temas, principalmente, quando nos referimos à fauna selvagem.

Isabella Fontana

9/5/20232 min read

Com fauna e flora tão ricas e tanta pressão internacional por ações de conservação, o esperado seria uma atenção maior à prevenção e ao controle de doenças em animais selvagens. Entretanto, não é isso o que acontece e o que se vê é a recorrente alegação de falta de atribuição, de que não há recursos humanos e orçamentários disponíveis e que outras atividades seriam prioritárias.

No caso dos órgãos de saúde, as ações são evidentemente empenhadas para a proteção da saúde humana. Para os órgãos de defesa agropecuária, o propósito é garantir a produção nacional e o comércio internacional de produtos, e os órgãos ambientais dedicam-se à gestão do meio ambiente. As doenças, porém, não respeitam essas divisões e muito menos esperam por decisões que dependam de processos burocráticos.

Por esse motivo, as diretrizes para a saúde de animais selvagens da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) incluem, além da articulação interinstitucional dentro da estrutura governamental, a participação da sociedade e do setor privado nas decisões e ações. A questão é que no Brasil esse tripé não existe porque falta a perna de um setor privado que possa se dedicar aos animais selvagens.

A maiorias das atividades que envolveriam o uso sustentável da fauna enfrenta duras restrições legais, é fracamente desenvolvida ou sequer discutida por entendimentos de que o lucro e a exploração econômica da fauna seriam maléficos ao meio ambiente. Nesse sentido, é comum o argumento de que os demais setores deveriam prover a questão ambiental, o que na prática não funciona, tornando a causa eternamente dependente de editais limitados, doações, fundos internacionais e boa vontade de quem se sensibiliza.

Ou seja, diferentemente de outros países com menor diversidade biológica, a situação no Brasil é insustentável, não há geração de empregos e quando as doenças afetam exclusivamente a fauna selvagem, a situação fica ainda pior, visto que a prioridade é combater os intermináveis desmatamentos e o tráfico de animais silvestres. Enquanto isso, ocorrências de doenças que afetam a biodiversidade e são potencialmente emergentes permanecem negligenciadas.

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